O famoso “dedo podre” existe?
Como escolhemos os parceiros amorosos (parte 1)
Muitas pessoas percebem que por mais que se esforcem, sempre acabam em relacionamentos com problemas parecidos, sofrendo com as mesmas coisas. É como se por mais que quisessem que seja diferente, o novo parceiro só mudasse o nome e endereço, mas tivesse muitos comportamentos parecidos com os antigos parceiros.
Por que isso acontece?
Bem, vamos começar entendendo como funcionam nossas escolhas amorosas. Em primeiro lugar, a escolha do parceiro NÃO É CONSCIENTE.
Quando nos apaixonamos, estamos procurando reencontrar as pessoas a quem estivemos apegados quando crianças, nossos vínculos primários. Por outro lado, queremos que o novo amor corrija todas as injustiças e dores que vivenciamos com esses vínculos. Então, se apaixonar contém ao mesmo tempo a tentativa de voltar ao passado e a tentativa de se livrar dele. Existe um desejo inconsciente e compulsivo de repetir partes do drama emocional da infância, querendo ter uma conclusão diferente e mais satisfatória.
Isso quer dizer que, nos casos em que a pessoa tem conflitos não resolvidos com suas figuras parentais ou significativas, esses conflitos serão revividos no campo dos relacionamentos amorosos. Mesmo que sejam doloridos, esses padrões são "velhos conhecidos". Isso é bastante visualizado em casos de famílias de origem com histórico de violências, abusos, traições, alcoolismo ou dependência química, etc. Da mesma forma, quando o término de um relacionamento não é bem elaborado, existe a tendência do relacionamento seguinte repetir os mesmos problemas. Pode ser que o novo parceiro tenha temperamento ou comportamentos semelhantes com o antigo parceiro, costumeiramente “ignorados” durante a fase inicial do relacionamento ou que só serão percebidos mais tarde. É comum expectativas como “ele/ela vai mudar” ou “daqui pra frente vai ser diferente”.
Só que, na maioria das vezes, repetir a história traz muito sofrimento e a chance de acabar igual é grande. Assim, acontece de relacionamento após relacionamento a pessoa sofrer com a dor de não se sentir amada, ou ser traída, ou ser machucada, ou se sentir sozinha ou se sentir usada, de novo e de novo…
O “dedo podre”, então, é a falta de consciência de quais os sentimentos relacionados aos vínculos primários e dessa busca inconsciente de repetição.
E como mudar?
Em terapia, a pessoa vai poder identificar o que registrou das suas experiências com as pessoas significativas na sua vida, se conectar e acolher seus sentimentos e desejos. Também, vai poder conhecer melhor a forma como se comporta. Mais consciente de si mesmo, a pessoa consegue fazer escolhas mais adequadas para si e observar como se sente em contato com o outro, percebendo se a dinâmica do novo relacionamento é nova mesmo ou é mais uma repetição.
“Definir um amor é como escolher uma casa. Temos que ver onde bate o sol, qual a incidência da luz. Onde secaremos as roupas, qual a proximidade do novo endereço dos amigos e das famílias [...]. Conhecer um amor é conhecer uma nova casa. Há pessoas com muitas janelas. Que não guardam ressentimentos. Isso ajuda a superar a cobrança. Há pessoas que não ficam julgando, que tentam compreender. São pessoas com cozinha ampla. Há pessoas com talento para a vida social, têm ampla sacada e churrasqueira. [...]. É fácil definir se um amor nos faz bem. O quanto estamos mais abertos, mais acessíveis, mais queridos, mais arejados, mais sensuais, mais dispostos a conversar com os outros” (Carpinejar).
